Transações se tornaram alternativas para ofertas de ações em Bolsa
Sem opção de levantar recursos na Bolsa, um número crescente de empresas está buscando estratégias envolvendo fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) para se capitalizarem, olhando para o impacto da escalada dos juros em seus negócios. O grupo Cosan e a CCR são alguns exemplos de empresas que focam tanto na venda de ativos, ou de parte deles, quanto na entrada de um novo sócio.
A Bolsa brasileira deixou de ser fonte para captação de recursos para empresas já listadas desde o ano passado, marcado por poucas ofertas subsequentes (follow-ons). Para as companhias não listadas, esse é um mercado fechado há quatro anos. Os preços das ações estão desenquadrados em relação aos fundamentos das companhias e, muitas vezes, não refletem sequer o valor de alguns dos ativos que estão dentro de conglomerados. Por isso, levantar capital junto a investidores até mesmo em transações privadas, fora da Bolsa, ficou inviável. Nesse ambiente, a diluição quando se faz aumento de capital a preço ruim é pior do que vender uma participação no ativo.
“Com pouca capacidade de levantar capital em bolsa, o M&A vira solução importante para as empresas levantem caixa ou ajustarem o custo de seus passivos”, afirma o chefe de Investment Banking do Bradesco BBI, André Moor. Isso não quer dizer que haverá uma explosão de transações este ano. Apesar de existir um número maior de empresas olhando para estruturas de M&A, o volume de transações deve ficar no mesmo patamar de 2024, na opinião de Moor. “O ano de 2025 começou bem, existem vários mandatos, mas a execução é mais difícil, porque o custo de capital está maior”, afirma. Com o juro se direcionando para 15% ao ano, a visibilidade do retorno de um investimento de maior risco frente a um título do Tesouro diminui.
Companhias adotam postura pragmática
Moor diz, no entanto, que as companhias estão fazendo contas e adotado uma postura mais pragmática nas discussões para a venda de um ativo ou busca de um sócio. Elas entendem que 2025 será um ano duro e que o ambiente pré-eleitoral em 2026 pode ser mais hostil para a tomada de decisões, acrescenta. Para os bancos locais, o ambiente macroeconômico mais desafiador acaba sendo favorável. Segundo Moor, tipicamente grande parte das discussões de M&As são costuradas por bancos locais, com os quais as empresas têm relacionamento de longo prazo e que acabam oferecendo combinações de estratégicas, algumas vezes envolvendo apoio em crédito ou outro tipo de serviço.
O executivo do Bradesco BBI reforça, entretanto, que existem ainda muitas dúvidas sobre a direção que os mercados irão tomar, já que não é claro como a economia dos Estados Unidos irá se comportar frente as políticas do governo de Donald Trump. Localmente, as discussões sobre o que acontecerá no campo fiscal e o impacto do juro elevado no PIB também geram incertezas. “No meio do ano, saberemos melhor para onde o mercado está indo”, diz.
Moor assumiu as áreas relacionadas a transações de M&As e do mercado de renda variável este ano, em meio a mudanças realizadas no Bradesco BBI com objetivo de ampliar sua presença nesses mercados, assim como dar maior foco ao mercado voltado ao crédito privado, que ganhou grande relevância nos últimos anos, e agora é liderado por Felipe Thut.
Fonte: Coluna do Broadcast